quinta-feira, 29 de junho de 2017

Migalhar



Como haverás e chegar
se tampouco batestes a porta.
Nem o vi cruzar a rua
como vindas sem sequer ir?

Como retornas
sem ao menos dizer adeus.
Mas aceito a volta,
acato calada o pouco de amor que me deves.

Reclamo tímida a frieza do desdenho
mas regozijo o abrigo que em teu corpo faço morada.
Recebo menos do que dou a ti
mesmo assim em algum momento migalhas me bastam.

Mesmo despida de orgulhos
sinto no fundo fagulhas de desprezo.
Que nem no mais longínquo pesadelo
temia tal desapreço.

A volta não é sempre do velho
Não é sempre do novo.
A volta é o retorno da inércia
que em minha vida é vindouro

terça-feira, 11 de abril de 2017

Medo do Fracasso






Até o nome assusta.

Desconjuro até de pensar.

Que não nos assole sequer imaginar

Pífia passagem por um mundo sem acrescentar.



Não mensuro tristeza de meus pais ao reparar

Filha esta que na vida  não havera de prosperar.

Anos seguidos sem ao menos celebrar

momentos de glória nessa sociedade que só faz sugar.



Dias de alegria num sorriso não contabiliza

Pra soma do mundo que ironiza

Valores existentes numa singela carícia

Abraço apertado não assegura boa notícia.



Deus me livre deste mundo infame

Onde o homem repleto de bom senso

Vale menos que sujeito que despreza crianças ao relento

Não pertenço a este país que compactua do desdenho.



Valorizo eu e tu.

Rica de mim mesma, quão grande sou.

Fracasso não é dinheiro pouco

É ter dias sem respeito pelo outro.



De graça conquisto sem muito furor.

Sorrisos que alegram por onde eu for.

Riqueza maior, no caminho certo estou

Medo do fracasso, só se eu pecar no amor.

terça-feira, 14 de março de 2017

Das Causas Urgentes





  Depois de mim, você.

Depois de você, a causa mais urgente.

Depois da pressa, o mais ausente.

Depois do menos visível, o todo.

O mundo lá fora.



Mas antes de tudo, o universo dentro de mim.

Tempo para olhar pra si e sossegar.

Tempo para olhar pra mim e questionar.

Inquietar-se de porquês e resistir.

Não há escapatória,  mais uma crise está porvir.



Dias de alegria e solidão.

Momentos de fraqueza e resistência.

Dias de luta e marginalização.

Cotidiano maçante onde falta elegância.

Rotina pesada e sem freio, sobra reflexão.



Café, pão. Arroz, feijão.

Há dias que mesmo com o básico nos falta a pátria.

Não dá pra viver com essa paga.

Quero cultura, laser e menos obrigação.

Que não me falte alma livre para criação.





domingo, 27 de novembro de 2016

Deixar Pra Depois Não Quer Dizer Colocar Debaixo do Tapete.


Néia, amiga da minha mãe sempre me dizia: " O tempo não só traz velhice, traz sabedoria também".

Eu sempre quis acreditar nisto, mas do alto dos meus 18 anos não tinha maturidade suficiente para verdadeiramente entender na prática esta frase.

Com o passar dos anos, acredito sim que fiquei mais sabida no que diz respeito ao jogo de cintura que a vida nos impõe.

Meu imediatismo pouco a pouco tornou-se e torna-se mais esporádico e por hora minhas anulações me renderam frutos mais à frente. O que me faz acreditar que esse “tempo” quer dizer paciência.

Paciência para não atropelar nem a mim nem aos outros. Cautela ao tomar decisões que possam ser irremediáveis e principalmente, me permitir segurar a  onda, respirar fundo e dar uma nova chance – Nova chance ao novo e ao velho que pode ou não vir a surpreender.

Aprendi a não encanar tanto e porque não, deixar de lado? Quando possível tomar decisões posteriormente, quando a poeira baixar, porque assim é mais fácil ter clareza.

Quando eu descobri o poder do DEPOIS, o tempo teve impacto muito mais positivo na minha vida. Usar o tempo e não ser refém dele foi um divisor de águas. 

Aquele mesmo tempo súbito permeado por impulsos perdeu lugar pra eutimia, permitindo assim, decisões firmes e assíduas que me trazem a convicção de que  essa tal sabedoria é alcançada lentamente, dia após dia. O tempo não é sinônimo de vilania.